Segunda capítulo da nova novela etílica, Rubião – O Rei do Rio. Eis que Rubião se encontra com a melhor cliente, que propõe sociedade e bêbado Rufião acaba aceitando e ficando com uma dúvida: Comeu ou não?
Semana passada eu não sabia como fazer pra pagar as contas desse mês. A coisa mudou. Hoje eu tenho mais de cem clientes e cada uma paga, no mínimo cinco reais. Isso vai continuar ao longo dos meses.
Planejar tudo com as “prima”
A coisa funciona assim: são planos que ofereço. Há o mais básico, com direito a uma foto, informações e um texto meu, uma espécie de depoimento, até planos de 100 reais com várias fotos exclusivas, vídeos e propaganda na entrada do site e um depoimento novo por mês. Além disso, área com material exclusivo para assinantes.
Créditos: Santi Xander
Sou famoso pela qualidade do serviço (simples, pessoal e elegante), por ser um sítio sem propagandas de sex shop, casa de festas ou outras empresas de acompanhantes e não me intrometer no lucro das mulheres.
Rufi o quê? Anismo! Puxa…
A prática de rufianismo consiste em tirar vantagem da prostituição alheia. Coisa que agente de futebol e de artista faz igual; coisa que um corretor de imóveis também faz; até alguns advogados por aí não são diferentes. Por um acaso, a profissão mais antiga do mundo não pode se dar o luxo de ter um agenciador do amor lépido. E isso, segundo elas, é o que há de melhor: liberdade!
(Essa é o meu diferencial! Eu não sou cafetão, proxeneta, gigolô ou rufião! Eu sou divulgador. Um publicitário formado na Escola Mr Catra de Putaria. Pós em Marquês de Sade e Mestrado em Bukowski.)
Mundo online é bem melhor
Créditos: axtelnemeth
O trabalho é igual ao do jornal, mas faço pela internet. O site está em quatro línguas, trabalha com simplicidade e atrai o público por ter meninas para todos os gostos e faixas de preço. No meu site, o sexo pode ser adquirido por três McLanches Feliz ou por mil reais. Sim. Milzinho pra fazer e ganhar carinho.
Pois bem, essa menina de vinte e quatro anos quer se encontrar comigo. A mulher de mil reais por hora quer me ver e conversar comigo! Coloco minha calça jeans, camisa, um blazer e uma boina. É noite. Está frio. Marcamos num restaurante em Santa Teresa.
Ela está lá. Um tubinho preto, pernas longas e finas, femme fatale, cabelo preto e longuíssimo, elegante, charmosa, e com um sorriso gigante. De longe ela me reconhece. É como se minha voz dedurasse minha condição física, minha estrutura psicológica.
- – Nossa, sorrindo desse jeito não tem homem que resista. – meu approach quase irresistível
- – Não to sorrindo, to rindo da sua roupa. Boina marrom e xadrez, terno preto listrado, camisa branca florida e uma calça jeans velha. Tudo isso com sapatênis. Você nunca será um cafetão se vestindo como um Falcão. – ela determinou o quase do meu approach
Cumprimentamo-nos com dois beijinhos. Ela se chama Kelly, é atriz e veio do sul. Sim, uma verdadeira gauchinha, mas não recém-chegada.
- – Moro aqui há cinco anos, sou atriz. Faço programa porque tem muito velho brocha que paga. Aliás, nem transar eu transo com eles, no máximo, sou uma acompanhante, tipo técnica em enfermagem.
Ela ainda terá a chance dela na televisão. Esse pessoal de novela tá ficando velho e vai se encantar com seus serviços.
E não está sozinha, tem mais cocota
Créditos: Gabor E. Nagy
Kelly diz que conhece muitas outras mulheres, também interessadas no meu serviço. No meu caso, ela é a minha melhor cliente. Cem reais por mês, quarenta fotos e dois vídeos com acesso só para os assinantes. Ela é uma das páginas mais acessadas do site.
- – Minhas amigas estão interessadas em entrar no seu site.
- – Ótimo!
- – Pra isso, eu preciso ser sua sócia.
Eu já tinha CNPJ. Vida de roteirista só rende quando você tem pessoa jurídica, uma empresa. Quem contrata não quer assinar carteira e nem correr risco de levar processo na (in)Justiça do Trabalho.
- – Kelly, eu vou ter que pensar nisso.
E lá vem a bebida…
Ela bebe uma dose de vodka. Eu acompanho. Duas doses. Quatro. Seis para cada um. Por alguma razão, Kelly permanece inteira, intacta, sorrindo. É como o gato de Alice; é como um oásis de terra em um oceano; é como uma musa para quem escreve. Eu estou mareado, bêbado, arrasado. Kelly permanece viva, sóbria, sorridente.
Minha casa é aqui perto
Eu penso nisso. Repenso sem parar. Sonho.
Créditos: Andrei V.
É manhã e Kelly está se maquiando. Eu estou de cueca na cama. A ressaca é de matar. O sol entrar pelos buraquinhos que as traças fizeram na minha cortina. A boca seca me deixa sem palavras e o calor sem pensar.
Kelly senta do meu lado, sem pedir, eu fecho seu tubinho preto, com zíper nas costas.
- – Bom dia, sócio!! Eu vou indo. Tenho trabalho – ela sentencia o fim da minha noite de ontem
Começo a quarta com uma sócia que eu nunca vi e 30 clientes novas. Isso não importa, eu só quero tirar uma dúvida para contar aos amigos:
Eu comi a Kelly, ou não?