Época de eleição, muitos debates são feitos em cima de temas como religião, opção sexual, aborto, dentre outros. Mas será que devemos discutir com foco nesses pontos? E os nossos direitos de escolha? Vamos debater sobre.
É época de eleições. Iremos decidir quais serão nossos principais governantes nos próximos quatro anos. Momento importante na vida de todos os cidadãos brasileiros. Infelizmente a maior parte das discussões gira em torno de coisas que, ao meu ver, não deveriam ser discutidas. E todas elas baseiam-se no direito de escolha de um cidadão. Do que eu estou falando? Casamento gay e aborto.
Pera! O PdB é um portal que fala basicamente sobre bebidas. Calma, eu chego lá!
A política e a religião
Créditos: Alvaro Germán
Os debates politicos tomaram uma dimensão diferente, embora com temas recorrentes, nas últimas semanas de campanha para as próximas eleições. Quando um dos candidatos faleceu em um acidente de avião, sua então candidata a vice tomou seu lugar. Essa candidata disse ser a favor da união entre homossexuais, mas depois voltou atrás. Pronto! Foi motivo para uma série de debates, reportagens e posts na internet tratando do tema.
A candidata poderia ter optado (olha a escolha aí!) por manter sua posição, mas voltou atrás por conta de pressões de grupos políticos envolvidos com a religião. Religião e política quando se misturam nunca dá em boa coisa. Os debates e argumentos sempre misturam direitos civis com dogmas e posicionamentos religiosos. É discussão para a eternidade!
Temas como aborto e liberação de drogas também entram em debate, mas nunca como de fato devem ser discutidos. As coisas sempre descambam para a religião, como se a religião não fosse uma escolha. Cade o estado laico?
Meu corpo, meu templo!
Créditos: John
Acho que poucas frases fazem tanto sentido. Se eu sou dono do meu corpo, devo ter o direito de fazer com ele o que bem entender. A escolha é minha. Posso decidir ter uma vida saudável, praticando esportes e comendo de três em três horas, com bastante fibras, legumes e verduras. Mas também posso escolher almoçar em um fast food todos os dias, chegar em casa e comer um pote de sorvete assistindo a minha série de TV favorita.
Nenhum politico, nenhuma lei ou religião pode impor como deve ser o meu estilo de vida. Então, se posso escolher ser quase um atleta ou o sujeito mais sedentário do universo, causando inveja no Garfield, por que quando escolho beber, fumar, usar drogas ou me relacionar com pessoas do mesmo sexo sou apedrejado?
Pablo Neruda um dia escreveu:
“Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das conseqüências.”
Verdade! Se escolho fumar sabendo que corro o risco de ganhar um câncer de pulmão, o problema é meu. Se escolho beber sabendo que corro o risco de ter cirrose, o problema é meu. Hoje vivemos a era da informação. Todos temos o dever de saber a consequência das nossas escolhas, e essa escolha deve ser individual.
As leis e o livre arbítrio
Raul Seixas cantou “faz o que tu queres pois é tudo da lei” e até hoje é criticado. Talvez as pessoas não tenham entendido a profundidade da mensagem. Ter consciência corporal e o direito de decidir o que você fará da sua vida não lhe dá o direito de fazer o que bem entender. Existem leis e preceitos morais que devem ser seguidos. E todas essas leis e preceitos giram em torno de uma coisa só: você tem o direito de fazer mal a você e a mais ninguém. Roubar, matar, humilhar ou subjugar outras pessoas é errado, sendo proibido ou não.
Você pode escolher o que fazer do seu corpo e da sua vida, mas não da vida dos outros.
Alguns dirão: mas um alcoólatra destrói uma família. Causa sofrimento e danos financeiros para todos ao seu redor. É verdade! Mas aí eu te pergunto: uma pessoa extremamente workaholic não causa os mesmos danos? E um fanático religioso?
Temos o direito de escolha sim. E temos que ter consciência que nossas escolhas não podem interferir de forma negativa na vida de ninguém. Estou falando do bom e velho equilíbrio. Tudo demais faz mal. Beber muito, malhar muito, comer muito, dormir muito, fanatismo… Devemos ter consciência de nossos atos.
Se um amigo meu resolver dormir na sarjeta a escolha é única e exclusivamente dele. Como um bom amigo eu estarei ali para tentar ajudá-lo. Mas se de fato essa é a opção de vida dele, o que eu posso fazer? Um dos escritores mais talentosos que o mundo já viu era um bebedor compulsivo, e sabia dos males que a bebida estava fazendo ao seu corpo. Ainda assim ele decidiu beber até os seus últimos dias, escrevendo textos maravilhosos. Estou falando de Charles Bukowski.
Se uma pessoa resolver correr maratonas atrás de maratonas sabendo que pode causar danos irreparáveis a vários ossos do seu corpo, mas mesmo sabendo disso escolher correr feito o Forrest Gump, porque é isso que lhe dá prazer, o que há de errado nisso? E o mesmo vale para os bebedores, tabagistas, consumidores de queijo cheddar e por aí vai. A vida é sua, são suas escolhas.
A consciência corporal
Créditos: Tomer Trabelsi
Dito tudo isso, volto aos primeiros parágrafos deste texto. Estou falando de opção sexual e aborto.
Há várias discussões sobre o tema homossexualidade. Há quem diga que é comportamento, há quem diga que é genético… não me importa. Se uma pessoa é feliz sendo homossexual, ou até mesmo bissexual, quero mais que ela faça o que lhe dá prazer. Gostaria que alguém me explicasse, de forma racional e sem religião envolvida, porque um homem é menos homem porque sente prazer em uma relação com uma pessoa do mesmo sexo. Caráter não vê orientação sexual, cor, raça, etnia, classe social ou religião. Não misture as coisas.
Meu melhor amigo é homossexual, e ele é o cara mais foda que eu conheci na vida. E olha que eu o conheço desde o ventre da minha mãe.
O mesmo vale para o aborto. Vamos tratar o tema sem eufemismos ou religião. Li uma reportagem hoje de uma menina, com uma vida inteira pela frente, que está desaparecida porque foi a uma clinica clandestina de aborto. Se ela tivesse a opção de se dirigir a um hospital e solicitar um aborto, como acontece em vários países europeus, ainda estaria entre nós.
Alguns vão dizer: mas ela carregava uma vida em seu ventre. Há controvérsias. Ainda assim, a escolha seria dela, e as consequências dessa escolha também.
Chega de preconceito
Preconceito é uma merda. Dá nojo! E to falando de todo o tipo de preconceito. Tem gente que fala mal do sujeito que bebe no bar, da menina que encheu o corpo de tatuagens, do sujeito que colocou um alargador na orelha, da amiga do trabalho que está obesa… E essa pessoa vive na igreja toda terça e domingo. Quanta incoerência.
Se as pessoas entendessem que elas são diferentes das outras, o mundo seria um lugar muito melhor de se viver. E viva a diferença! Não teríamos guerras religiosas, holocaustos, espancamentos de homossexuais, discussões a cerca de cotas raciais, liberação de drogas, estilos de vida, orientação sexual e por aí vai. Nossos políticos estariam discutindo planos de governo que de fato melhorassem a nossa vida e garantissem nossos direitos. Quando o IR chega todo o mês de abril nossos governantes não querem saber de que cor somos, qual é a nossa orientação sexual, se bebemos no bar ou vamos na missa rezar um pai nosso todo domingo. Então, porque na hora de falarmos dos nossos direitos essas coisas surgem?
Vamos beber!
Esse texto daria um bom papo em uma mesa de bar, né? Eu escolhi beber. E gosto mesmo! Destilados, cervejas baratas e especiais, drinks… Se altera o meu estado mental e me faz relaxar eu encaro. E, embora eu me considere um bebedor moderado (equilíbrio é tudo) mesclando meus dias entre trabalho, exercícios físicos e uma bebidinha no fim de semana, há dias que eu decido encher a cara. E a decisão é minha e de mais ninguém. E bebo sem culpa. Não há político, pastor ou padre que me convença do contrário.
Então meu caro leitor, seja você um maconheiro, um homossexual, um bêbado, uma mulher que decidiu esperar para se tornar mãe, um ateu ou um religioso, não tenha vergonha de ser o que você é. Saia de casa com orgulho, levante suas bandeiras se for necessário, mas nunca deixe que te digam o que é melhor para você. Descubra por si próprio.
E o mais importante: deixe as pessoas serem o que elas quiserem ser.
Já fui chamado de bêbado algumas vezes. Mas sei que não sou, não o tempo todo. E tenho consciência dos meus atos e minhas escolhas. Sei e tenho inteligência suficiente para notar onde algo na minha vida está em desarmonia com o que eu penso e o que fazer para mudar. Sou dono das minhas escolhas, sem medo de ser feliz, sendo taxado ou não.
E você?