Sexto capítulo da novela etílica, Juliana Problema. Ao acordar na cama ele percebe que tem alguém ao lado, e não é sua namorada. Problemas a vista... Confira mais um capítulo!
Créditos: Steven Sites
No dia seguinte da festa, eu acordei com o calor. Os dois ventiladores de mesa não davam vazão e o meu quarto fervia como torradeira. Levantei, pus os pés no chão, descolei o lençol das costas. Meu maço não tinha um mísero cigarro. A ressaca não me deixava abrir os olhos direito. A noite anterior era um vão na minha mente. Domingo é sempre uma merda, mas aqui no meu apartamento, a bosta é mole e fedorenta.
Acorda porra…
O celular começou a despertar. Achei estranho, pois eu sempre desligo antes de ir dormir. De repente, ouço uma voz:
- – Já acordou? – assustado, levantei da cama, dei um pulo e caí em cima de um salto finíssimo, ela voltou a falar – Calma, meu bem…
Créditos: Brent
Chamar de “ela” é por conta da decisão que ela fez. Na minha cama estava um travesti, daqueles bem fortes e másculos. Nesse momento, passei a mão na cintura para ter a certeza se ainda estava de cueca, e estava. Fui puxar o lençol para me cobrir e acabei descobrindo o travesti. A imagem foi horrorosa. Apesar da tentativa de desviar os olhos, percebi porque me chamam de “piquitito”. Ela voltou a falar:
- – Eu sei que você está surpreso, mas isso tudo tem uma explicação. – ela tentava me acalmar
- – Olha… – eu ainda tremia de medo – eu não preciso de muita explicação. Aliás, explicações podem atrapalhar minha opção sexual, criar uma baderna na minha cabeça… Não fale comigo, por favor. Estou sentido – sejamos sinceros, não dá pra ser muito homem numa situação dessa
- – Meu bem, fica tranqüilo. Fizemos nada.
- – Jura?! – tranqüilizado e com um sorriso imenso – Jura mesmo?!
- – Dois caras me chamaram pra pegar uma peça em você. Até pediram para não contar, mas você é tão fofinho e “piquititito” – puta merda!! – que achei melhor explicar do que complicar sua vida. Você estava apagado dentro do carro quando eles me pegaram na rua. Eles colocaram você aqui na cama, comemos um feijão que estava na geladeira e eles foram embora. Como o sofá era ruim, vim dormir com você.
- – Porra!! Vocês comeram o feijão?! Esse feijão vale uma fortuna! Minha mãe quem faz. Isso sim é sacanagem!! Agora vou almoçar o quê?! – falei puto, puto mesmo, puto e com fome
- – O feijão realmente era muito bom, mas eu faço melhor, faltou sal… Mas você não quer saber o que estou fazendo pelada no seu quarto? Isso não lhe preocupa?
- – Olha… boa pergunta. Responda isso direitinho: Que diabos você veio fazer pelado na minha cama?
- – É “pelada”! – ela disse se levantando e mostrando os silicones – vim dormir pelada porque teu quarto é quente pra caralho, algum problema? – ela tentando me intimidar – Tá na hora de comprar um ar-condicionado, tu é pobre? Até eu tenho ar-condicionado! – ela conseguiu me intimidar
- – Quero sempre o melhor pras minhas visitas, mesmo quando elas não são convidadas. Prometo que na próxima pegadinha eu estarei com um ar-condicionado bem gelado para o seu conforto.
- – Pode me buscar um copo d’água? – ela me pediu com educação, apesar de mostrar com a cara de que não tinha gostado da minha respostas debochada
- – Claro! Quem sou eu pra negar um copo d’água? – tentei ser educado e consertar minhas palavras anteriores
- – Sabe, né? “Boquete e copo d’água nunca se negam”! – ela me avisou em tom de piada, querendo me sacanear
- – É, mas amizade entre homens não rola isso. Tu é meu parceiro! – respondi bem humorado, ela até achou graça e fez um sinal como se dissesse “Boa resposta!”
Vamos tentar o contra golpe…
Enquanto estava na cozinha, dei uma cuspida no copo dela, essa seria a minha vingança por me tratar tão mal e ficar nua na minha casa, como se quisesse atacar a minha auto-estima em torno do meu órgão masculino.
- – Você sabe que horas são? – ela me perguntou gritando do quarto
- – Uma da tarde! Por quê? Tem algum programa agora? – o veneno escorria pelos cantos da boca
- – Piquititito, tenho que ir!! Isso faz parte da peça que eles pregaram em você!! – se apressando para colocar a roupa
- – “Piquititito”?! Quem te falou isso?! – falei passando o copo d’água enquanto ela colocava um salto no pé tamanho 45 dela
- – Meu bem, tenho anos de estrada, dá pra ver que você é “piquititito”. Aliás, esse é o horário que os homens do carro iam trazer sua namorada. Deixa eu ir embora antes que ela chegue e nos pegue aqui juntos.
Levantei os olhos, despenquei os ombros e mandei o mais sincero e simples “Puta que me pariu!”
Assim que o traveco abriu a porta, quem estava ali prestes a apertar a campainha era Juliana. A cena teria sido muito mais tranqüila se um dos seios do cara não estivesse pra fora. Olhei perdido para minha namorada e tentei explicar com cuidado:
- – Não é o que parece…
Com olhos lacrimejados, Juliana dá as costas e vai embora pela escada do prédio. O travesti ainda corre atrás dela como se fosse tentar explicá-la tudo. Eu só pensava: “lá se vai a minha promoção…”