Quinto capítulo da novela etílica, Juliana Problema. Moya chega na festa havaiana, encontra seu chefe e seu sogro. Confira mais um capítulo!
Créditos: Raquel Santana
Assim que cheguei ao luau, Juliana, trajando uma maldosa fantasia de havaiana, tirou o microfone do cantor que abusava na interpretação ao cantar Djavan – ou Jorge Vercilo, eu nunca sei a diferença.
- – Gente, esse é o meu namorado! – imediatamente todos olharam pra mim, o único que estava de eterno e gravata naquela praia – Vejam como ele é um piquititito! Não é lindo de fofo?! Ele veio de terno! Fica calmo, piquititito, eu vou pegar um colar de flores pra você entrar no clima!
Créditos: Bo Boswell
As pessoas continuavam olhando pra mim. O maldito cantor demorou a se recuperar da crise de riso, por isso, pude ouvir toda festa comentando e rindo do único convidado que estava vestido como um segurança.
Juliana veio com as flores, me botou no clima do luau, e, logo em seguida, deu um beijo. Os convidados – todos falsos – bateram palmas. Eu olhei em volta com a cara de quem diz “Durmam com essa, seus merdas!”. Antes que Juliana falasse algo, comentei com ela sobre o apelido vergonhoso:
- – Porra, Juliana! “Piquitito” não é um apelido para um homem da minha estatura e porte físico! – maneira carinhosa que criei para me chamar de “gordo”.
- – Ah, benzinho, não fica assim. Aliás, não é “piquitito”, é “piquititito” – ela, incrivelmente, se justificando
- – Ainda que fosse “piquitão”, tá aí um apelido que não é maneiro! Que tal me chamar de “Montezuma Carnal”? Tá aí algo que daria uma impressão melhor.
- – Piquititito, não viaja na maionese! – resolvi ficar calado, afinal de contas, quem fala “viajar na maionese” não atualizou o caderninho de gírias desde 1997
Chefe pilantra…
Créditos: kingkong21
Juliana me apresentou para boa parte da festa, até o momento que dou de cara com meu chefe. Vestindo uns três colares de flores, sandália com meia preta, pochete, bermuda acima do joelho e camisa regata, ele conseguiu estar mais ridículo do que eu.
- – Sabe, Juliana, seu namorado é um dos meus melhores funcionários – meu patrão, como bom advogado, nunca teve medo de mentir – tanto que vou adiantar a notícia de que ele será promovido e receberá um generoso aumento.
- – Duvido!!! – soltei sem pensar
- – Como?! – meu chefe perguntou assustado
- – Divino! Eu disse “divino” – não consegui fugir da cara de reprovação do meu chefe e de sua mulher
- – Juliana, posso tomar seu namorado emprestado? – ela aceitou, e meu patrão e eu nos afastamos delas – Sabe, “piquititito” – ele falou de sacanagem – o pai da Juliana é um grande cliente nosso e tem muita grana. Com apenas 30% das contas dele, eu consigo ser rico, imagina se a gente se juntar e pegar tudo? Eu te boto como sócio e você leva uma boa grana.
- – Ah, é? Agora você quer o “piquititito” pra ajudar? Vou te contar uma coisa: pra você, eu sou “piquitão”! Segura essa, malandro de carpete! – confesso que desabafei os anos de salário atrasado e de horas extras não recebidas
- – Porra, moleque, se tu me sacanear, eu acabo com a sua vida!
- – Olha, eu quero ser sócio a partir de segunda-feira, ou vou tirar os 30% que te deixam rico! E mais: se vier de gracinha, boto os capatazes do meu sogro pra correrem atrás de você – esse sou eu tirando onda de picudo, mesmo sendo piquititito.
- – Segunda nós conversamos – meu chefe respondeu meio contrariado, mas com cara de quem iria dar o braço a torcer.
O pai de Juliana chega e meu patrão começa a rasgar seda pra mim. Irritado com toda aquela falsidade, meu sogro, que não é bobo, dá um corte na conversa:
- – Olha, doutor, menos. Vamos parar com esse papo – eu, atrás do sogro, olho pro meu chefe e faço o gesto como quem avisa o papel de ridículo.
Piquitito é o car$%#$%#…
Créditos: Bol @ work
A conversa não rende e o pai de Juliana me leva para conversar:
- – Sabe, piquititito – ele falou de sacanagem -, teu chefe cuida de 10% dos meus negócios. Ele provavelmente vai querer que você interceda para favorecê-lo. Não caia nessa – o tom de aviso estava claro.
- – Vou falar uma coisa: por mim, eu fodia esse marmanjo. Sacaneia os empregados, trata todo mundo mal, é mentiroso. E tem mais: os funcionários ficam putos com os salários e não defendem direito suas empresas, o pessoal deixa a Justiça meter o pau em você – de certa maneira, era uma verdade, mesmo que só minha.
- – É mesmo?! – eu confirmei com a cabeça – Sabe, piquititito – ele falou de sacanagem -, tu é escroto, mas tem personalidade. Gosto disso.
Meu sogro contou seus planos, prometeu um trabalho num escritório melhor, onde eu receberia um salário decente. Disse, também, que não queria a filha namorando um “moleque fodido”. Brindamos.
- – Sabe, piquititito – ele falou com carinho -, tu é muito ruim, mas tem um lado bom. Já pensou em ser desembargador? – meus olhos brilharam.
“Bendita seja Juliana” – eu pensava.