Quarto capítulo da nossa novela etílica, Juliana Problema. Moya está em casa quando sua antiga ficante liga. Ele desvia, tenta fugir, mas no final vai pra uma festa junto com a namorada. Confira mais um capítulo!
Enquanto pensava em que roupa usaria para esse tal jantar com o pai de Juliana, uma amiga-piriguete me ligou. Ela é uma daquelas ex-namoradas com quem todo homem mantém contato para, na hora do desespero, ligar. Normalmente não são bonitas, mas sempre calham de saciar a vontade.
E lá vem o papo torto…
Créditos: Flavia Brandi
- – E aí? Planos pra hoje de noite? – ela me perguntou cheia de maldade
- – Tenho um jantar com o pai da minha namorada, acredita? – falei em tom de desabafo
- – Você está namoranda?! Rá! Duvido! Te vi na boate, com uma loirinha…
- – É ela mesmo. – falei interrompendo
- – Sério?! Assim?! Amor a primeira vista?!
- – Não é amor…
- – É o quê?! – agora ela me interrompe
- – Dei mais um dos meus papos furados e acabei me fodendo. Fui inventar que era oncologista de criancinhas e isso sempre dá errado. Você sabe como é.
- – É… até hoje não sei como acreditei por tanto tempo que você era um membro da Cruz Vermelha, mas que somente trabalhava em casa, fazendo operações pelo computador. – percebi que ela ainda não tinha superado esse episódio.
- – Deixa isso pra lá! É passado! Me diga: ligou procurando uma companhia pra sua cama vazia, né?! – perguntei confiante como um homem-macho-alfa
- – É. To sem dinheiro pra sair, Pedrão viajou, só sobrou você. É feio, mas eu topo. Lembra do Pedrão?! Aquele personal trainer com quem eu fazia treinos em casa?! – ela queria me lembrar do seu “amigo” Pedro que sempre encontrava com ela quando eu saía com outras
- – Arranja outro pra chacota. Já tenho problema demais por hoje. Esse jantar vai ser complicado.
- – Sabe qual a razão do jantar?
- – Nem faço idéia. – respondi, ao mesmo tempo dei conta o absurdo que era eu não saber a razão do jantar
- – Já pensou em ligar pra menina? Você tem que saber como é o esquema do jantar pra escolher melhor sua roupa.
- – E eu lá tenho o telefone dela?! Conheci a mulher ontem e já sou namorado, já conheci a família… Porra! To mais fudido do que puta velha da Vila Mimosa. Vou de terno mesmo. Terno cai bem em qualquer lugar. Não tem erro.
- – Faz o seguinte. Resolve seu problema aí. Assim que terminar o jantar, se não for muito tarde, me liga. Quem sabe eu não te ajudo a resolver as coisas. Ah, e não se esquece de passar a camisa. – e desligou o telefone sem se despedir
Era 19h, como eu tinha combinado com Juliana, seus capatazes vieram me buscar em casa. Estava pronto. Terno azul marinho com riscas de giz, camisa branca, sapato, meia e cintos pretos, e gravata azul com algumas listras brancas. Modéstia parte, tava mais ou menos gostoso.
Que burro, dá zero pra ele…
Créditos: Rubens Andreazzi Filho
Assim que entrei no carro o segurança e o motorista riram. Perguntei a razão da piada e eles nada responderam. Por toda a viagem, o silêncio só era quebrado pelo riso dos capatazes. Isso criou um sentimento meio sombrio pra mim, o único passageiro do banco de trás. Ao longo da viagem, eu enviei mensagens do meu celular para todos meus amigos, como se estivesse fazendo um testamento: “Jonny, se algo acontecer comigo, você ficará com minha coleção de CDs” ; “Bia, as cinzas da minha cachorra ficaram com você” ; “Jonas, lembra aquela peça de lego que você perdeu quando tinha 8 anos? Eu que roubei. Desculpa.”
De repente, aquela viagem de duas horas teve um fim. O carro estacionou numa reserva ambiental onde acontecia um imenso luau. Todos os presentes vestiam camisas coloridas, colares de flores, bermudas e chinela. Eu estava mais parecido com um dos seguranças do que com um dos convidados.
Créditos: Bo Boswell
“Maldita Juliana” – eu pensava – “Maldita Juliana”