Segundo capítulo da novela Juliana Problema. Namorado conhece o temido pai. Pior que o poderoso chefão, mais temido que traficante da Rocinha. Confira mais um capítulo!
Créditos: Bol @ work
Quando chego à casa de Juliana eu tomo um susto. Ela mora num apartamento imenso de frente para a praia de Ipanema. Estou sentado na sala e dois brutamontes estão ao meu lado. O motorista está de terno e o outro é, nitidamente, um policial militar que faz segurança particular. O pai de Juliana chega, de roupão de seda, estampado, repleto de ouro e uma cigarrilha. Sem apresentações, ele pergunta quais são as intenções com sua filha.
- – As melhores possíveis! – disse cagado de medo
Sei tudo sobre você, seu verme…
Sem qualquer explicação – não que eu queira descobrir seus métodos –, o pai de Juliana diz tudo sobre a minha pessoa. Ele começa falando sobre a minha verdadeira profissão, o que abre os olhos a Juliana, depois comenta sobre meus pais e sobre o local onde moro – um apartamento de fundos em Botafogo.
Juliana, de tão atônita, ainda questiona os comentários de seu pai. Ele, mostrando a palma da mão, pausa o impulso da menina. Eu olho para a minha namorada e faço aquela velha cara de derrota como quem diz “é verdade e me fudi!”. Juliana fica decepcionada.
Apaixonado ou com pena?
Não que eu tenha me apaixonado momentaneamente pela pequena menina, mas é que deu um dó tão grande dela, que afirmei que tinha dito aquilo tudo para conquistá-la, pois eu estava apaixonado por ela. Isso amenizou um pouco sua dor.
- – Além de merda, é mentiroso?! – me perguntou o pai
- – Veja bem, na minha posição, você faria o mesmo para conquistar essa gatinha – nessa hora, minha ideologia era “fodido, fodido e meio”
- – Não discordo e também não aceito! Minha função de pai é protegê-la de urubus como você.
- – Senhor, urubu é Flamengo. Urubu come merda. Não gosto de ficar sendo comparado com essas coisas.
- – Eu sou Flamengo. Conselheiro do Flamengo. Sócio-benemérito.
- – Cada um com seus problemas! – minha ideologia evoluiu: “fodido e meio, dois fodido”
- – Pelo menos personalidade ele tem. – dizia olhando para seus capatazes e para sua filha
- – Personalidade e bom gosto. Além de ser botafoguense, olha só esse seu roupão… – mais uma evolução: “dois fodido, dois fodido e meio”. O pai de Juliana riu.
- – É verdade… – continuava rindo – Só uso porque a mãe dela me obriga. – todos os capatazes riram, e eu acompanhei pra não ficar de fora do grupo – Olha, filha… se você quer namorar com esse vagabundo, eu aceito, mas abra seu olho porque ele vale nada.
- – Nunca neguei minhas raízes… – todos me olharam em reprovação, e eu me consertei – só quando quis conquistar a mulher mais bonita do mundo. Então vamos dar esse assunto por encerrado. Eu e sua filha temos um amor recíproco e nada vai nos separar. Agora, eu vou indo, pois tenho trabalho.
- – Num sábado?! – me perguntou o pai
- – Eu levo trabalho pra casa – qualquer desculpa para fugir daquela mansão
- – Ok.
Partiu daqui, graças a Deus…
Créditos: Jean-Francois
Juliana ainda me interpelou sobre meu número de telefone. Eu imediatamente respondi para perguntar ao pai dela: “Ele sabe tanto da minha vida que até meu RG não é segredo”.
Os capatazes do pai de Juliana me deixaram em casa sem perguntar o endereço. Assim que saí do carro, um deles, pela janela do carro em movimento, ainda me deu o recado:
- – Se você sacanear a menina, vamos buscar você e sua família.
Dois fodidos e meio, oito fodidos.