Quarto capítulo da novela etílica, Eu Tenho Duas Namoradas. Armando arma uma puta festa para conquistar as duas namoradas e empatar o jogo que estava quase perdido para ele.
O jogo de volta foi marcado. Era a minha chance de virar a partida.
Meu pai viajou e deixou seu palacete aberto para minhas sapecagens. Acendi o carvão, gelei a cerveja, coloquei a Ketel One no congelador, preparei as frutas e um setlist de músicas que começava com Black Music, passando por Black Keys e terminava com os clássicos do rock. Eu armei uma festa.
Esquema armado, vamo que vamo
Créditos: Henrique Garcia
Antes que os amigos e amigas chegassem, já tinha avisado que quando tocasse Beatles, eles deveriam partir. Esse era o esquema. Todos seriam figurantes e teriam a função de me fazer parecer uma pessoa supimpa, e depois abandonariam o cenário para meu solilóquio.
Assim que Amanda e Anna apareceram, a festa realmente começou.
Minhas amigas gatas contavam histórias exageradas sobre a minha pessoa, e exaltavam qualidades que ou elas não conheciam, ou inventavam. Os olhos de Anna brilhavam de saudades.
Auto-estima seguida de segurança
O cenário estava tão perfeito que a minha auto-estima subiu e me deu segurança. Ora, mulher adora homem seguro, tranquilo sobre si. Nesse aspecto, eu era um poço de testosterona ao som de Barry White e Curtis Mayfield com swing de Campo Grande.
Amanda custava acreditar que as histórias contadas fossem verdades, mas meus amigos foram convincentes. Especialmente minhas amigas, que chegavam e mentiam dizendo que já tinham ficado comigo e que eu era um ás d(n)a cama.
Começa o Beatles, bora por o plano em prática
Nos primeiros acordes de “I Want To Hold Your Hand” as pessoas foram saindo. Uma após a outra. A casa esvaziou. Ficamos eu, Anna e Amanda. Confesso que estava nervoso como se fosse a primeira vez de um homem. E de certa forma, era mesmo.
Créditos: Michelle Braga
Anna sempre foi boa em fazer caipirinhas, com uma vodka boa e frutas cuidadosamente selecionadas, ambas tinham emburacado dentro da bebida e já estavam soltinhas. Liguei o ar-condicionado da sala, desliguei as luzes, acendi umas velas e montei uma boate particular.
Dançamos, cantamos, pulamos, dançamos e cantamos.
Enfim veio “Since I’ve Been Loving You” do Led Zeppelin. Meu plano estava funcionando.
Aqui entra uma nota, um conselho de amigo para amigo: sempre que essa música toca e as mulheres estão bêbadas, simplesmente se aproxime e arranque o melhor beijo que você conseguir. É batata que dá certo. Batata! Nem micareta com mulher feia funciona tão bem.
Primeiro, eu beijei Anna, que arrancou de mim um amor que não via há tempos. Então, ela passou todo esse fogo para Amanda, que retribuiu a nossa intermediária, que veio e me devolveu o beijo da paulista.
Isso era pouco e eu estava muito bêbado.
Créditos: andrea
Durante o solo de guitarra, puxei Amanda para meus braços e a beijei como se eu fosse o Charles Bronson e ela a Scarlet Johansson. O solo termina. Quando dou um passo para trás, vejo Amanda, de olhos fechados, congelada, com os lábios entreabertos.
No reflexo da janela me vi e pensei:
– AAAhhhhhhh, moleque!!!
Procurei por Anna, mas ela não estava por perto. Mais uma vez cheguei perto de Amanda e arranquei-lhe o beijo mais beijo do mundo. Eu estava inspirado e feliz.
Cabe informar que Amanda é linda. Não mais e nem menos que Anna. É quase como se uma completasse a outra. Eu estava recriando, através de duas lindas mulheres, a mulher dos meus sonhos.
Porém, a alegria durou pouco.
Amanda despencou, desmaiada. Ela tinha bebido demais. Anna já estava no quarto do meu pai, dormindo. Peguei a paulista pelo colo e a coloquei na cama, ao lado de nossa intermediária.
Anna já estava nua, talvez imaginando onde tudo aquilo iria terminar. Amanda eu deixei de roupa. Fechei a cortina, liguei o ar-condicionado do quarto e sai dali como um cavalheiro.
Quase um BBB
Créditos: Bobagento
Educação eu tenho e sempre ouvi que devemos valorizar as mulheres. Mas eu sou homem, animal e também tenho minhas perversões. Por muito pouco não deitei naquela cama e agarrei as duas, mesmo que apagadas de bêbadas. Muito pouco mesmo. Sorte minha que, no fundo da minha cabeça, ouvia minha mãe ameaçando, como se eu ainda fosse criança:
– Se você fizer esse tipo de merda, não terá direito a sobremesa.
Eu adoro sobremesa.
Puto, sem mulher, bêbado, de pau duro e cansado, fui obrigado a lavar a casa. Meu pai voltaria de viagem e todos tinham fumado e derrubado cerveja no chão. Arregacei as mangas, enchi baldes de água e comecei o trabalho de “Maria”.
Finalizando tudo…
Quando terminei a faxina, o sol nascia. Coloquei uma generosa dose de vodka num copo, três pedras de gelo e bebi tudo em dois goles longos. Ali mesmo, no sofá de casa, estiquei meu corpo e dormi.
Não demorou muito, fui acordado. Agora, com uma notícia boa.
O jogo estava 10 x 2 pra mim. Empate. “Que venha a prorrogação” – pensei.