Conheça os diferentes tipos de rolhas de vinho, suas utilidades, vantagens e desvantagens. Rolhas de cortiça, tampas de rosca, rolhas sintéticas, etc.
Esse é mais um daqueles elementos que ajudam a construir a figura mitológica do enochato, mas que com algum conhecimento e muitos goles a gente percebe que tem sua razão de ser, as rolhas de vinho.
Eu mesmo quando me embrenhei nesse mundo olhava aquele ritual da abertura do vinho nos restaurantes e fazia graça: abertura da garrafa, a rolha em um pratinho, a prova e depois o consentimento para servi-lo.
Aí pensando que durante algumas centenas de anos toda garrafa de vinho era fechada com rolhas de cortiça, comecei a ficar intrigado com essa relação da bebida com o seu envasamento e vedação.
As rolhas de vinho
Créditos: TOLGA ILDUN
Como toda bebida obtida através de fermentação, pode-se dizer que o vinho é uma bebida viva. A evolução daquele suco obtido através do mosto de um determinado tipo de uvas não se resume às barricas de carvalho ou aos tonéis de inox dentro da vinícola.
Depois de engarrafada, a bebida continua a evoluir. Depois de um determinado momento, pode-se dizer que o vinho “passa do ponto”.
Aí, ele evolui para outro produto (vinagre), mas isso é outro papo. 😉 Para garantir que a fermentação continue o seu trabalho dentro da garrafa, as rolhas de vinho devem prevenir a entrada de oxigênio na garrafa.
Rolhas de vinho feitas de cortiça
Para isso, no século XVII os produtores começaram a usar rolhas de cortiça, produzidas a partir da casca de um tipo de carvalho conhecido como sobreiro.
Créditos: Stefano Senise
Ela se tornou padrão no mercado por conta de sua elasticidade, permeabilidade e longevidade, e também por não ter nenhum efeito no gosto da bebida.
Na verdade, quase nenhum: num pequeno número de casos (probabilidade aproximada de 2%), a cortiça é atacada por um fungo que produz a substância tricloroanisol (TCA).
Nesses casos, o vinho fica com um gosto de mofado, que os franceses chamam de bouchonné.
Além disso, ainda é um vedante caro (custo aproximado de 1 euro), já que a casca de cortiça do sobreiro, uma vez raspada, demora 25 anos para crescer novamente.
Rolhas de farelo de cortiça
Por conta disso, o mercado vem buscando alternativas. Uma delas é fazer rolhas de aglomerados de cortiça, ou seja, farelos de cortiça colados juntos. Bem mais barato, e bem menos confiável (rolha esfarelar ao abrir a garrafa, quem nunca?).
De uns tempos pra cá (acho que desde a década de 90, não tenho certeza), o mercado vem buscando alternativas à rolha de cortiça.
Rolhas de vinho sintéticas
Créditos: Charles KAVYS
Já vi de tudo, desde rolhas sintéticas a vinhos em embalagens tetrapak. Impacto disso na qualidade do vinho? Há muitas controvérsias…
As rolhas sintéticas parecem muito com as de cortiça, mas o material lembra um plástico flexível, quase uma borracha. Os tradicionalistas e enochatos costumam adotar o discurso de “não vi e não gostei”.
Em termos práticos, é uma rolha imune a contaminação do vinho pelo TCA e que não precisa estar sempre em contato com o líquido para manter a vedação (essa sendo a razão para as garrafas terem de ser guardadas deitadas).
Prazo não muito longo…
No entanto, não se sabe a sua resistência a longo prazo. Os produtores preferem não arriscar, e com isso costuma-se ver rolhas sintéticas apenas em vinhos sem grande potencial de envelhecimento (uns 5 anos de guarda).
Os grandes vinhos projetados para morar décadas dentro da adega ainda são feitos com rolhas de cortiça maciça.
Tampas de rosca
Corre por fora também o uso de tampas de rosca (as “screwcaps”). Seu uso começou a ser difundido pelos produtores australianos e sul-africanos mas aos poucos vem ganhando mercado.
Sua aplicação é semelhante a das rolhas sintéticas: é imune ao TCA, permite guardar as garrafas em pé, mas por não ter sua resistência a longo prazo comprovada (embora digam que conservam melhor que as sintéticas), costuma ser utilizada nas garrafas de vinhos “jovens”, principalmente vinhos brancos e rosés.
Tem uma outra vantagem de bônus: são recicláveis. A cada dia, novos produtores aderem a esse tipo de vedação, mas seu grande inimigo é justamente o tradicional enochato: muitos torcem o nariz para as screwcaps porque “quebra todo o ritual de beber um vinho”.
Finalizando
Felizmente, a melhor parte do ritual é beber 😀
E você, qual das rolhas de vinho você prefere?
Créditos da foto de capa: Lizzy Mihai