Um almoço entre os amigos num restaurante brasileiro nos EUA. Eis que uma mórmon (religião que não permite que seus fiéis bebam álcool) experimenta um Creme de Papaia que contém Álcool. Veja o fim da história!
Essa semana fui almoçar com o pessoal do trabalho. Aquela história: papo chato, mas tudo pago. A minha profissão de escritora não deveria permitir que eu fosse tão antissocial, mas eu sou.
Fazer o que? No fundo, eu preferia ficar em casa comendo miojo do que almoçar com pessoas que não fico à vontade. Até porque a arte de mastigar é algo extremamente feio. Detesto mastigar na frente das pessoas.
Almoço num Restaurante Brasileiro, aí sim!
Créditos: Flavio Chan
Bom, acontece que fiquei muito empolgada quando descobri que o almoço seria num restaurante brasileiro (pra que não sabe, eu moro nos Estados Unidos há 2 anos). Cheguei lá tirando onda, falando metade português com os garçons e metade inglês com a galera da “firma” (O-D-E-I-O essa palavra).
A cara da galera é impagável quando me vê falando português. Ficam querendo saber o que estou dizendo e achando tudo lindo. Coisa boa que é ser bilíngue. Dá pra tirar uma onda. Bom, isso hoje em dia não é muito surreal, considerando que aqui em Utah, mais da metade das pessoas (leia-se: mórmons) foram pra outros países fazer missão. Todas elas voltam bilíngues, coisa que acho muito legal.
Churrasco, feijão, pão de queijo, delícia…
Créditos: tutyland
E foi dada a largada para o rodízio de carnes. E vai limonada, guaraná, fraldinha, picanha, coração de galinha, feijão, arroz, polenta, ovo de codorna, banana frita, pão de queijo (e é por isso que agora meu exame de sangue está querendo me colocar com o pé na cova, mas deixa esse assunto pra outro dia) e outras maravilhas.
Eis que chega a sobremesa
Finamente é chegada a parte da sobremesa. Por que é que quando garçon pergunta “sobremesa, pessoal?” todo mundo fica se olhando, inventando desculpas e dando risadinhas como quem diz “sobremesa é coisa de gente gorda”, mas no final acaba sempre pedindo um bolo de chocolate com sorvete e calda quente?
Créditos: Alexander Medvedev
Well, well, well… Eu fiz questão de dar uma sugestão já que uma das garotas americanas da mesa estava sonhando com uma sobremesa brasileira. Eu disse pra ela:
- – A minha sobremesa preferida no Brasil é creme de papaia.
- – Papaia? Eu AMO papaia – ela respondeu eufórica
Então eu disse pra mocinha ques estava nos servindo e que falava português:
- – Então, colega, traz um pá nós! (Mentira, eu não falo assim, mas pedi pra mocinha trazer a porcaria da sobremesa de qualquer jeito)
Fudeu, tem álcool…
Créditos: Alexander Nerozya
Quando chegou o creme de papaia todo lindo numa taça, banhado em licor de Cassis, tremi e escutei um anjinho soprando baixinho no meu ouvido:
- – Essa garota é mórmon. Você tem que avisar a ela que tem álcool nessa sobremesa!
Breve pausa pra explicar o mormonismo: religião que não permite que seus fiéis bebam álcool. Pronto. Essa explicação é o suficiente pra esse texto.
Foi nessa hora que senti meu outro ombro coçando. Reparei que era o diabinho rindo:
- – Tá louca. Não avisa nada! Deixa ela sentir o prazer do álcool pela primeira vez na vida.
Deixa ela beber e foda-se o anjinho
Créditos: Kostas Tsilogiannis
Devo ter passado o resto do almoço inteiro pensando nisso. Acontece que a garota estava se deliciando loucamente com o creme de papaia. Eu não podia contar pra ela. Porém, era como se eu permitisse que meu tio judeu ortodoxo comesse um sanduba de presunto sem saber. Era muita sacanagem!
- – Mas ela está pecando sem saber! – disse o anjinho
- – HAHAHAHAHA! Foda-se! – respondeu o diabo
De quebra, ainda perguntei pra ela:
- – Aceita um café?
- – Tá doida? Mórmon não bebe café! – ela respondeu nervosa
Finalizando
Acabou o almoço e fui incapaz de contar a verdade. Mais uma vez o diabo em mim venceu. Ah. Quer saber? Álcool mata as bactérias e não faz mal pra ninguém. Tá tranquilo! E vocês, o que fariam? Contariam a verdade?