Um post em homenagem a um dos símbolos do alcoolismo junto com poesias. O grande poeta Charles Bukowski, o "Velho Safado", é homenageado pelo Papo de Bar.
Prezados Camaradas, é com enorme satisfação que volto a postar neste ilustre boteco, depois de tanto tempo afastado dos bastidores do PdB, obviamente, por motivos alheios a minha vontade, mas que foram inevitáveis, assim, sirvo-me do presente para desculpar-me pela longa ausência, se é que fiz falta para algum dos bêbados de plantão.
Bem, chega de rasgação de seda e vamos ao que interessa. O papo da semana é o seguinte: “Porres e poesias”. Segundo a ótima sugestão do Dono do Bar, seria uma ótima idéia escrever sobre alguns poetas ébrios que deixaram seu legado nas linhas da história, então, pensei logo no ilustríssimo “Velho Safado”, como era conhecido por sua legião de amigos e fãs, ninguém mais, ninguém menos, que Charles Bukowski.
Charles Bukowski [1920-1994]
Nasceu em Andernach, na Alemanha, em 16 de agosto de 1920, era filho de uma jovem alemã e de um militar americano. Foi levado por seus pais para os Estados Unidos logo aos três anos de idade, tendo residido inicialmente na Cidade de Baltimore no ano de 1923, posteriormente, a família foi obrigada a mudar para o subúrbio de Los Angeles.
Criança atormentada + pai violento…
Charles Bukowski foi uma criança atormentada por um pai extremamente autoritário, violento e frustrado, que constantemente descontava seus problemas o espancando pelos motivos mais fúteis e irrelevantes. Quando atingiu a adolescência, somou-se a este problema o fato de ter o rosto e toda a parte superior do corpo literalmente tomada por inflamações que o obrigaram a submeter-se a tratamentos médicos no hospital público de sua Cidade.
Como se bastasse tantos problemas, na escola, a situação também não era das melhores, tendo poucos amigos e sendo sempre o penúltimo a ser escolhido para o time de beisebol, acabou abandonando a escola para voltar somente um ano após.
Solução: Álcool e os livros
A ausência do elo familiar sólido, amor, carinho, compreensão e, além disso, a humilhação de ter um rosto deformado obrigaram-no a fugir. Neste meio tempo descobriu duas coisas que o ajudaram a tornar a sua vida suportável: o álcool e os livros. Teve problemas com alcoolismo, trabalhou em empregos temporários em várias cidades americanas, como carteiro, frentista e motorista de caminhão apesar de ter estudado jornalismo sem nunca se formar.
Bukowski começou a escrever poesias aos 15 anos, mas seu primeiro livro somente foi publicado 20 anos depois em 1955. No ano de 1962 estreou na prosa caracterizada pela descrição de sua vida pessoal. Escreveu, entre outros livros, “Mulheres“, “Hollywood” e “Cartas na Rua“.
E logo vai amanhecer? Os trabalhadores vão se levantar?e vão procurar por mim no estaleiro?e dirão:? ‘ele tá bêbado de novo’.
Charles Bukowski, in Quatro e meia da manhã
De estilo extremamente livre e imediatista, suas obras não transparecem demasiadas preocupações estruturais, sua literatura é de caráter extremamente autobiográfico, abundando acerca de temas e personagens marginais como: prostitutas, sexo, alcoolismo, ressacas, corridas de cavalos, pessoas miseráveis e experiências escatológicas. Dotado de um senso de humor ferino, auto-irônico e cáustico, foi comparado a Henry Miller, Louis-Ferdinand Céline e Ernest Hemingway, resumindo, uns dos maiores gênios da literatura.
O Grande Velho Safado
Repulsa, nojo, ódio, amor, paixão e melancolia, esses são alguns dos sentimentos que mais o inspiraram na composição de toda sua obra. Cada poesia, cada romance e cada conto do escritor trazem um pouco da vida do “Velho Safado“, como ficou conhecido no mundo inteiro. Prova disso é o jornalista inglês Howard Sounes, que assina: “Charles Bukowski – Vida e loucuras de um Velho Safado” (Editora Conrad).
Tendo Ernest Hemingway e Fiódor Dostoiévski como principais influências. Com o escritor russo ele aprendeu: “Quem não quer matar seu pai“? O complexo de Édipo rodeia Chinaski por toda a obra. “Ele” é o cara sacana, “Ele” é o responsável por seu sofrimento, “Ele merece” morrer. Esse ódio por seu pai, um alcoólatra violento, permeava toda a obra do “Velho Buk“. Essa capacidade de transformar o dia a dia em poesia, de pegar as bebedeiras triviais, as angústias adolescentes e transformá-las em arte era a mágica mais mirabolante de Charles Bukowski.
Beber é algo emocional. Faz com que você saia da rotina do dia-a-dia, impede que tudo seja igual. Arranca você pra fora do seu corpo e de sua mente e joga contra a parede. Eu tenho a impressão de que beber é uma forma de suicídio onde você é permitido voltar à vida e começar tudo de novo no dia seguinte. É como se matar e renascer. Acho que eu já vivi cerca de dez ou quinze mil vidas.
(Charles Bukowski)
Funcionário dos Correios até os 49 anos, Bukowski sonhou a vida inteira em ser reconhecido pelo seu trabalho como escritor. Dono de um talento nato, o poeta usava a simplicidade e a singularidade dos fatos mais rotineiros e transformava o cotidiano em obra de arte. Inconformado e, sempre, com uma garrafa na mão, ele sentava em sua antiga máquina de escrever e, com uma sutileza surpreendente, deixava fluir seus pensamentos sem censura alguma.
Autobiografia é o que há
Vivia em um mundo atormentado e distorcido, totalmente fora dos padrões impostos pela sociedade de sua época. O escritor nunca fez questão de esconder que seus trabalhos eram, quase sempre, autobiográficos. E sua falta de discrição era tão grande, que durante toda vida teve de lidar com a quebra de laços de amizade. Ele citava, sem qualquer preocupação, nomes e, quando muito inspirado, fazia duras críticas às pessoas que o cercavam. Algumas vezes os personagens “nada fictícios” ficavam sabendo das peripécias do poeta bêbado após a publicação dos textos.
Sua obra surtiu tanto efeito que alguns de seus contos e romances acabaram sendo adaptados para o cinema por alguns diretores. Inclusive, o próprio Bukowski recebeu diversos convites para escrever argumentos, apesar de assumir que nunca gostou muito de filmes.
Nos anos 1980, desfrutou de certa fama, convivendo com artistas e tornando-se uma celebridade. Porém, Bukowski faleceu aos 73 anos, em 09 de Março de 1994, na Cidade de San Pedro, Califórnia, pouco depois de finalizar sua obra “Pulp”. Morreu de pneumonia em decorrência da leucemia. Em seu túmulo deixou mais uma prova de sua enorme irreverência, qual seja: “Don’t Try“, em português: “Nem Tente“.
Dedico essa postagem ao eterno Mestre Charles Bukowski, vulgo, “Velho Safado”.
Ao mestre com carinho,
Borislay Ressaks.
Fonte: Wikipedia