Conheça o Bistrô Estação R&R, um bar do Complexo do Alemão, na Nova Brasília, uma das favelas que compõem o complexo.
Cerveja deve ser a coisa que as pessoas mais desejam, depois de sexo. Ou sua bebida favorita, ok. Mas temos que admitir uma coisa: cerveja está na moda. Ela está sempre na moda, mas cerveja artesanal está bem na moda agora e eu espero que nunca saia de moda. E uma coisa que sempre é assunto aqui no Rio é favela, seja por violência ou por alguma ideia mirabolante que alguém de lá teve. Eis que um “louco” teve uma brilhante ideia de abrir um Bar do Complexo do Alemão, o Bistrô Estação R&R.
Mas já não existem bares no Complexo do Alemão?
Sim, claro, mas não um feito para quem gosta de cervejas artesanais. Marcelo Ramos, 41 anos, é o cara que teve essa ideia em 2012. Louco era a palavra que ele mais ouvia quando teve a ideia de lançar o Bistrô Estação R&R e conversou com moradores, amigos de lá. Não é por menos, já que a cultura da cerveja artesanal ainda está embrionando, e na época estava mais ainda, principalmente por causa da pacificação que ocorreu no local e que até hoje é meio tensa, como em vários locais onde isso aconteceu aqui no Rio.
Até que surgiu o Bistrô Estação R&R
E Marcelo mostrou que é possível sim ter um bar com diversas cervejas artesanais num complexo, e melhor, mudar uma cultura local. O Bistrô Estação R&R iniciou com 40 rótulos de cervejas e agora tem por volta de 300 rótulos. E o mais incrível, 80% da clientela do bar é feita de moradores do Complexo do Alemão. Ou seja, ele além de vender cerveja, ele mudou a cultura, ensinou bastante sobre cerveja artesanal para os moradores, divulgando mais esses rótulos e mostrando que todos podem beber e gostar de cervejas artesanais.
O Bistrô Estação R&R fica dentro da Nova Brasília, uma das favelas do complexo. E ouviu bastantes vezes perguntas como: O que é um bistrô? Cerveja não é tudo igual? Você acha mesmo que isso vai dar certo aqui? E o mais interessante foi a primeira cliente, já que o local era uma garagem da família, nem era um bistrô bistrô mesmo, ela viu o Marcelo arrumando as coisas no local e resolveu pedir uma cerveja. Depois disso veio o ano de 2014, ano de copa, aí ele tinha que arrumar os clientes gringos, que sempre têm curiosidade nas favelas.
Eu queria aproveitar a onda de Copa e Olimpíada. Foi um risco enorme. Mas pensei: se ninguém comprar minhas cervejas, eu mesmo bebo.
Disse Marcelo
Fico imaginando ele, sem falar praticamente nada de inglês tentando se virar com os gringos, deve ter sido deveras cômico e irado, principalmente porque ele mandou muito bem e só cresceu com isso. Mas o bom disso é a garantia de retorno, se der merda, fodasse, eu bebo todo o estoque 😛
Eu consegui criar uma cultura cervejeira na favela. As pessoas passaram a provar outros tipos, aos poucos foram entendendo mais.
Marcelo comentou.
Introduzir cerveja artesanal na favela
Acredito que isso tenha sido algo bem difícil, pois é diferente para os moradores, um local que você dentro pensa que está na Zona Sul, mas sai e está rolando um baile funk, música na esquina, um bocado diferente do clima lá dentro. Mas isso não interfere em porra nenhuma, pessoal se sente bem lá dentro, apesar de no início não ser assim. Cervejas que custam de R$10 a quase R$300 é algo inaceitável para alguns moradores, já que por R$5 ou menos você consegue pegar uma cerveja gelada ao fodasse.
E o mais legal é ver que a cultura cervejeira era passada para cada visitante. Geralmente a galera nunca bebeu e não conhece praticamente nada sobre cerveja, só que ela possui água. Mas o objetivo era ensinar pra essa galera toda da favela sobre cerveja artesanal. Com isso, os moradores foram aprendendo e virando clientes assíduos do bistrô:
Eu aprendi e conheci sobre cerveja aqui. As pessoas da favela descobriram que esse lugar também é pra elas. O morador passou a apreciar a cerveja graças ao Marcelo
Diz Cleber, morador da região.
E dizem que Marcelo é bem tranquilo e ainda indica outros bares temáticos pra galera conhecer. Tem mercado pra todo mundo, vários locais, é assim que se faz mesmo, parabéns para ele.
Do Bistrô Estação R&R pra cerveja
Vi que eles lançaram uma cerveja chamara Complexo do Alemão, que é uma Lager Premium. Achei a ideia excelente e uma escolha certa, pois é um estilo que não impacta tanto a galera nova que está querendo experimentar as cervejas premium. Ainda não experimentei mas estou deveras curioso para isso. E inclusive o Marcelo comentou sobre essa parte de não querer lançar uma cerveja que impacte para o pessoal da comunidade. Por mais que o pessoal que é fã de cervejas artesanais prefira outros estilos, essa cerveja é para o pessoal que mora lá principalmente. Deve ser irado você morar num local que existe uma cerveja com o nome.
Finalizando
E deve ser um aprendizado e uma vitória fodástica para alguém que era técnico em telefonia e resolveu investir na carreira cervejeira, virando um especialista em cerveja. Que mais pessoas façam isso, para que, além do sucesso profissional, divulgue a cultura cervejeira para quem não tem acesso fácil. Eu tive uma puta experiência no Complexo do Alemão quando toquei com a minha Fanfarra, a Hey Ho! Brass Band, que inclusive comentei por aqui no artigo sobre o Honk Rio. As pessoas dessas comunidades precisam de mais informação, cultura e nós precisamos nos mexer mais para levar até eles, seja cerveja, música, teatro, o que for. Não adianta só achar bonito, temos que nos mexer.
E que surjam mais fanfarras e mais pessoas como o Marcelo. Um brinde a ele, um brinde ao Alemão.
Beijo na alcatra.
Fonte: G1.