Pegando um gancho de sustentabilidade devido ao Rio+20, vamos comentar sobre o processo de produção de uma cachaça. Os procedimentos, funcionamento, tudo o que passa na produção de uma cachaça.
Quem chega em um bar e pede uma lapada de cana talvez não imagine o rigoroso processo produtivo que há por trás da possibilidade de degustar essa bebida tão brasileira. Nas destilarias que adotam o processo industrializado, tudo é controlado, desde o preparo da terra para o plantio da cana-de-açúcar, até o transporte do produto final para as empresas responsáveis pelo envasamento e distribuição.
Cana-de-açúcar rumo a área industrial
Créditos: Efrem Binda
Depois de colhida, a cana-de-açúcar é transportada para a área industrial das destilarias. O processo é o mesmo independente do porte da empresa, variando apenas a quantidade de cachaça produzida. A primeira parada da cana é nas moendas, local onde o caldo é separado do bagaço.
De lá, o caldo segue para as dornas, que são grandes tanques de ferro onde é realizado o processo de fermentação. O fermento utilizado é semelhante ao comercializado para confecção de bolos, pães e outros produtos do gênero alimentício.
Concluída a etapa, separa tudo
Créditos: João Braga
Concluída esta etapa, o vinho resultante da fermentação passa por uma turbina que o separa do fermento. O fermento volta para as dornas, tem seu Ph corrigido e é reutilizado. Já o vinho, segue para etapa final do processo nas colunas de destilação, onde é separada a aguardente da vinhaça, através de um processo de condensação do vapor de álcool resultante do aquecimento do vinho.
Como o álcool possui ponto de ebulição menor que o da água, ele é separado, capturado e, posteriormente, condensado em outra torre. Nasce aí a famosa Branquinha.
Indústrias aproveitam 100% da cana
Créditos: Guerilla Historian
A produção de aguardente consegue utilizar 100% da cana-de-açúcar. Em uma destilaria de cachaça, nada se perde. Os restos da produção são utilizados como adubo e matéria-prima para o funcionamento das caldeiras que garantem a geração da energia necessária para o funcionamento da indústria.
Há duas etapas específicas da produção que geram resíduos a serem aproveitados. A primeira delas é a moagem. Para a produção de aguardente, é utilizado apenas o caldo da cana, e o bagaço é dispensado. Esse bagaço, a invés de se tornar lixo, é queimado na produção de vapor das caldeiras que garantem a auto-sustentabilidade das destilarias em termos de energia.
Em grandes empresas como a Destilaria Liberdade, em Pernambuco, a termelétrica que garante o abastecimento gera uma média de 3,2 megawatts/hora de potência (sendo que 1 megawatt é o equivalente a 1.000.000 watts).
O momento da destilação
Créditos: paraty.honey
O segundo momento é a etapa final, a destilação. A aguardente é separada do vinho e deixa para trás um composto líquido denominado no meio industrial como vinhaça, que é utilizado para fertiirrigação e complementa o adubo da terra onde será plantada a cana-de-açúcar. Em destilarias de grande porte, há ainda a possibilidade de ser produzido um excedente de bagaço que pode ser vendido e utilizado na produção de celulose (papel).
Mas nem tudo são flores
Créditos: Gerry de Caires
Mas nem tudo são flores na produção de cachaça. Ainda há um problema com o qual as empresas tem tido dificuldade de lidar: o desgaste do solo causado pelo plantio da cana-de-açucar. Além disso, as queimadas realizadas antes da colheita podem causar, com o tempo, erosão do solo e desertificação.
Uma das alternativas possíveis para lidar com essa questão seria a implantação de um sistema de rodízio de culturas, variando entre plantação de cana e de espécies leguminosas, que devolvem nitrogênio ao solo desgastado graças a ação de uma bactéria alojada em suas raízes. Mas essa preocupação infelizmente ainda não faz parte do dia-a-dia da maior parte das indústrias produtoras.