Nossa nova integrante, Garota Ressaca, já chega com o pé na porta falando de "possíveis sexos", muito Rock N' Roll e birita na cabeça. Confira a história!
Quando eu era pequena me perguntava o que eram aqueles gritos acompanhados de barulhos eletrônicos vindos da caixa de som da minha sala. Eu não entendia como meu pai gostava de ficar sentado no sofá com a cabeça para trás e os olhos fechados ouvindo uma mulher gritando e gemendo. Morria de vergonha de chegar perto dele e perguntar:
Pai, isso é sexo?
Fuckyeah!
Eu achava estranhíssimo que na maioria das vezes ele gemia e gritava junto com a mulher. Com um copo de água na mão, ele imitava os sons que ela fazia. Ele podia ficar por horas naquele estado de transe e ninguém iria na sala perturba-lo. Definitivamente aquilo poderia ser o “sexo” que eu tanto ouvia na televisão e não sabia do que se tratava. Eu tinha quase certeza que era isso, afinal eu já tinha ouvido a Vera Fischer fazer esses barulhos na TV.
Acordei cedo por vários sábados da minha infância devido a esses barulhos que ele fazia.
Até que um certo dia…
Créditos: CousinJacob
Um belo dia acordei com sede e eu precisava passar pela sala para chegar até a cozinha, e foi nesse dia que tudo aconteceu. Parei perto da porta da sala e vi que ele estava com o copo de água na mão, em pé e se balançando para frente e para trás. Ele gritava e gemia e também fazia uns movimentos estranhos com a mão. Morrendo de vergonha e de sede, resolvi que daria passos bem silenciosos até chegar a cozinha, e foi então que escutei:
- – Filha, vem aqui.
Minha garganta ficou mais seca do que já estava, mas eu não poderia dizer “não” para o meu pai. Lentamente fui chegando perto do sofá, onde ele se sentou e disse com um bafo de álcool:
- – Senta aqui do meu lado. Quero te mostrar uma coisa.
Clima de suspense…
Créditos: Jarrett Lantz
Tive medo. Ele pegou o controle remoto e apertou o “play”. Nessa hora eu tremi pensando que veria a Vera Fischer na TV, mas não foi ela quem apareceu. Lembro de ter ficado em choque quando vi uma mulher com cabelos de Poodle e sem peitos gritando ao lado de um cara com calça boca de sino segurando uma guitarra de 2 braços. A mulher estranha gritava e meu pai gritava também. Olhei abismada para aquilo sem entender o que acontecia. Só me lembro do meu pai cuspir as seguintes palavras:
- – Filha, você tem que ir para a América. É lá que você vai ver coisa boa.
Não é sexo, é Rock N’ Roll \o/
Créditos: Miguel Torres
Anos mais tarde fui a uma festa da escola e alguém colocou o DVD de uma banda inglesa. Na capa dizia que eles tocavam Heavy Metal nos anos 70. Foi nesse dia que descobri que o Robert Plant era a moça estranha da minha infância, e que a água com cheiro de álcool que meu pai bebia era Vodka. Obviamente descobri isso da pior maneira possível quando passei a noite dando uma de rainha no banheiro – abraçando o trono e sentindo o cheiro da Rússia.
Meu pai me disse para vir para a América (prefiro chamar de Estados Unidos, afinal de contas esse papo de que só o povo dos EUA é considerado americano me irrita. O Brasil também é na América, né?), mesmo que o Led Zeppelin fosse inglês. E eu vim. Ele também me disse para não beber muito, mas essa parte eu não ouvi.
Aos 25 anos, apaixonada por Led Zeppelin e com uma coleção de Absolut no congelador começo hoje a minha jornada pelo Papo de Bar contando um pouco das bebedeiras (ou da falta que elas fazem) aqui no norte da nossa América.