Terceiro capítulo da novela etílica. Agora Moya tenta vender exemplares do conto da sua bunda. E eis que no final das contas ele recebe um convite sagaz...
Acordo assustado, afogado no meu ronco. Meu sedentarismo faz de mim um velho adiantado. Dormir com a barriga pra cima me faz roncar. Dormir de lado me faz ter azia. Dormir em cima do braço me deixa dolorido. A gente fica velho e perde a habilidade de dormir.
O bolso está cheio de dinheiro trocado. Trezentos reais! Nossa! Lembro de vender algumas cópias, mas como foi que esse dinheiro chegou a essa quantidade?
Mas como?
Bem… eu tomei a decisão ousada de escrever um capítulo por semana. A capa do meu livro é a minha bunda. Auto-ficção que chama né? O DESTINO ABUNDA é o nome da publicação. A ideia é vender um capítulo novo do meu livro toda semana. Na quinta-feira vou aos bares e vendo de mesa em mesa. O primeiro capítulo foi um sucesso.
Você tá se perguntando como cheguei a esse nome. O DESTINO ABUNDA. Eu tenho duas explicações:
A primeira resposta é a honesta: não lembro. Quando acordei, a capa e o primeiro capítulo estavam impressos e já tinham esse nome. Isso gerou um arrependimento momentâneo. Mas era tarde para fazer cópias novas.
A segunda resposta é a poética. Destino é o fim. O que abunda é o que sobra, tem em excesso. Para homens como eu e Macaulay Culkin, todo dia é um fim novo. É como estar na hora extra do jogo da vida. Então o fado, a fatalidade e o fim estão em quantidades que eu mesmo não consigo dar conta.
E como vender?
Pra vender algo você precisa criar a necessidade, estimular a curiosidade e mostrar os benefícios do produto. Ou simplesmente viciar a pessoa naquilo. Eu fiz de tudo um pouco. Quando as pessoas reconhecem que eu sou a bunda da Avenida Rio Branco, logo vendo meu peixe. Elas têm a necessidade de fazer stories e fotos comigo e eu quero vender os exemplares. Juntamos o útil ao agradável.
Meu telefone, que voltou a funcionar graças ao arroz, toca. Número desconhecido. Quando isso acontece, só pode ser golpe. Batata. É telemarketing. Quando ligam e falam que é da Globo, já sei que é pra vender jornal. Eu nem leio notícias. Gosto mesmo é de fake news, que é a publicidade em seu estágio mais puro: mentiras.
Eis que…
Mas o cara persiste e liga de novo. Ele não é da venda. Ele é produtor do programa da Fátima Bernardes e ficou sabendo do meu folhetim. Tem nem um dia de trabalho e já virei Paulo Coelho. Minha autoestima é um demônio montado num touro doido de MD. Abro uma cachaça velha e dou uma bicada. Só tenho a comemorar. A gente combina minha presença para a próxima semana. Eu, Francisco Cuoco e a banda Melim.
Quem imaginou ser uma boa ideia colocar eu, Cuoco e Melim no mesmo sofá? Falo por mim. Sou velho demais pra gostar de Melim e novo demais pra ter curtido o Cuoco. Por outro lado, conheço Francisco de situações bem loucas e já fui a muitos luais em Niterói – Melim é do gênero luau, né?
Finalizando…
A merda que vai dar eu ainda não sei, mas é bom eu começar a escrever esse novo capítulo do DESTINO ABUNDA porque minhas garrafas de cachaça estão chegando ao fim.