O álcool apreciado com moderação é um prazer, mas virar grande problema se ingerido junto com antidepressivos. Não junte álcool e antidepressivos!
Qualquer apreciador de cerveja, vinho ou destilados sabe bem que, se consumido com moderação, o álcool pode proporcionar grande prazer. Mas há situações em que o uso do álcool é completamente contraindicado, em qualquer dose. É o caso, por exemplo, das pessoas que fazem uso de medicamentos antidepressivos (como fluoxetina, sertralina, bupropriona, paroxetina, amitriptilina, entre outros).
Embora os riscos causados pela interação entre álcool e antidepressivos sejam amplamente conhecidos, muita gente ainda vive com aquele pensamento de que sabe o que está fazendo, e de que “comigo não vai acontecer”.
O álcool leva à pessoa a um estado de descontração que é prazeroso no curto prazo, mas passados os efeitos iniciais, pode levar à intensificação dos sintomas de depressão e da ansiedade – justamente o que o oposto do que deseja alguém que faz uso de antidepressivos.
Por que misturar álcool e antidepressivos é um erro?
Estudos científicos provam que ingerir álcool e antidepressivos pode ser muito mais perigoso do que se imagina, começando pelo fato de que tanto o álcool quanto os antidepressivos afetam certas áreas do sistema nervoso central ligadas à coordenação motora, cognição, memória e humor.
O álcool alterar a interação de enzimas e de neurotransmissores, podendo tanto intensificar quanto reduzir os efeitos dos antidepressivos, interferindo em sua ação no sistema nervoso central. Combinados, eles podem causar tremores, diminuição nas habilidades cognitivas, intensificação dos sintomas da depressão, e até levar ao coma.
Outro risco é sobrecarregar o organismo com a dupla tarefa de metabolizar o álcool e os antidepressivos, visto que alguns princípios ativos dos medicamentos são metabolizados por enzimas produzidas pelo fígado, que também tem a função de processar o etanol.
Os 3 principais perigos da mistura de álcool e antidepressivos
1. Diminuição da Coordenação Motora, Reflexos e Atenção
Com o consumo simultâneo do álcool e dos antidepressivos a pessoa pode ter seu pensamento comprometido. Sua coordenação motora e mental, seus reflexos e sua atenção serão afetados. Algumas combinações podem deixar a pessoa com a sensação de estar sedada ou bastante sonolenta, o que é bastante prejudicial para a execução de tarefas aparentemente simples do cotidiano, que exigem foco e atenção, como dirigir, cozinhar, operar máquinas, entre outras.
2. Aumento da Pressão Arterial
O consumo de álcool e de antidepressivos da classe dos inibidores da IMAO pode expor a pessoa a um grande perigo, principalmente com relação ao aumento da pressão arterial. O álcool contém quantidades variáveis de tiramina, uma substância que, quando combinada com esses medicamentos, podem gerar picos perigosos de alta na pressão arterial.
3. Mudança de Humor
Quem faz uso de antidepressivos deve respeitar a dose prescrita pelo médico, bem como sua frequência. Não se deve interromper o uso do medicamento para que se possa beber.
Os níveis de concentração plasmática do antidepressivo precisam se manter adequados para que haja o efeito esperado. Interromper e reiniciar o uso do antidepressivo – com o intuito de poder consumir álcool – pode fazer com que os sintomas da depressão piorem num curto período de tempo, levando a sérias alterações no estado de humor e um retrocesso importante no tratamento da depressão.
Nos jovens a mistura de álcool e antidepressivos pode ser ainda pior
O abuso no consumo de álcool na adolescência está cada vez mais visível – e preocupante – assim como o aumento do número de jovens com depressão, que fazem uso de medicamentos antidepressivos receitados por seus médicos.
Durante muitos anos, acreditou-se que os jovens não eram afetados pela depressão, mas atualmente sabe-se que eles são tão suscetíveis quanto os adultos. Por isso, o cuidado com eles precisa ser redobrado.
Nesta fase, os jovens costumam se comparar muito uns com os outros e, por conta disto, alguns apresentam sérios problemas de auto estima e de frustração. Pode ser uma idade cheia de complexos, fragilidades e o temperamento de muitos deles costuma ser mais agressivo. Com isto, não é incomum os pais fazem mais críticas do que elogios.
Por isso, o uso de álcool na adolescência é preocupantemente comum, especialmente entre aqueles jovens que buscam na bebida algum refúgio. Muitos deles veem no álcool uma forma de “fugir” destes e de outros problemas, acreditando que o estado de “anestesia” e “descontração” temporários os ajudará a se distraírem e até se esquivarem das dores e dificuldades da vida, que tende a exigir cada vez mais deles, à medida que se aproximam da idade adulta.
As estatísticas são um sinal de alerta
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão afeta 300 milhões de pessoas no mundo. Na América Latina, o Brasil é o país com a maior incidência, com 5,8% da população afetada, o que representa aproximadamente 11 milhões de brasileiros.
De acordo com a OMS, a depressão é fator de risco importante para outros problemas de saúde potencialmente graves, entre eles o alcoolismo, visto que a depressão aumenta a propensão ao abuso de álcool.
Ainda segundo a OMS, no Brasil há mais de 4 milhões de pessoas acima de 15 anos considerados alcoólatras: quase 3% da população brasileira. O brasileiro bebe 8,7% litros de álcool puro por pessoa a cada ano, contra a média global de 6,2%.
Combinando estas estatísticas – o alto consumo médio de álcool pelo brasileiro e o aumento da incidência de depressão (que leva mais pessoas a receberem a prescrição para uso de antidepressivos) – é razoável imaginar que deverá haver também crescimento do número de pessoas expostas aos riscos gerados pela mistura destas substâncias.
A regra de ouro todo mundo sabe: beber com moderação – e se abster de beber, quando isto se fizer necessário, seguindo rigorosamente à orientação médica com relação ao uso de antidepressivos.
Cuidar de você e de suas emoções significa cuidar da vida – mesmo que isto requeira abster-se temporariamente de um prazer.
Artigo escrito pela equipe de conteúdo científico do Nossos Doutores.