O quarto episódio da série Foliões segue com Armando se dando mal, como sempre. Agora ele tem que enfrentar duas opções no carnaval.
Fanfarra Black Clube não erra. Só não curte Marvin Gaye quem não sabe amar. Tá cheio? Tá! Mas a porrada deles ecoa. A Praça Tiradentes aguarda eles descerem da escada. Encontro um amigo. Encontro outro. Mais uma cerveja e uma cachaça de jambu. “Cadê Nathália?” – eles perguntam. Começo pelo meu linchamento. Viro a piada. “Também, né?”.
Dói perceber que errei e não existe dor maior que a culpa. Eu fui um babaca – como costumeiramente sou -, mas, ainda assim, sou 99% anjo perfeito. Tenho meus méritos. Eis que meu advogado, o famoso Beto Cachaça, uma das mentes menos sãs da Cidade Maravilhosa, chega. Tudo o que ele aconselha é ótimo se você fizer o oposto. Se ele tem uma sugestão, pode contar que é furada.
- Tu é o “magic stick” de Botafogo, deixa essa coisa de namoro pra lá – aconselha Beto
- Essa varinha aqui só faz uma mágica – respondo
- Duvido. Quem é comedor nunca deixa de ser comedor.
Creditos: Karolina Szczur
Querido(a) leitor(a), cabe aqui uma explanação: aprendi desde cedo a “comer quieto”, pois “quem come quieto, come duas vezes”. Por conta disso, as pessoas criaram uma expectativa, uma lenda com o meu nome, pois elas sempre achavam que eu “comia mais” do que eu realmente estava “comendo”. Apesar desse linguajar chulo, é uma questão de respeito. Nenhuma menina quer ficar mal falada numa roda. Imagina só as pessoas comentando “pra ficar com o Armando deve ser louca mesmo”.
A verdade é que Nathalia não ligava pra fama de maluca. Talvez por ser a mais sã de todas. Essa racionalidade dela foi o sucesso do nosso relacionamento – até então, pelo menos. As decisões entrego na mão dela e dificilmente me arrependo. Agora é um pouco diferente.
- Se quiser ajuda, pode contar comigo. – Beto Cachaça tenta me confortar
- Nem sei o que fazer ou por onde começo.
- Primeiro passo é achar ela.
- Eu já achei uma vez e fiz tudo errado.
- O segundo passo é fazer tudo certo.
- Sim! Claro! Não… Pera aí!
Beto Cachaça ter razão é preocupante. Concordar com ele é mostrar o quão perdido estou. Mesmo que a conclusão seja superficial, que o comentário seja genérico, digno de um doutorado em coach, continuo temendo pelo paradoxo que me enfiei. Concordar com o homem que sempre erra…
- Onde você acha que a Nathalia está agora? – ele me pergunta
- Provavelmente por aqui. A gente tava combinando isso.
- Bem… Tem gente pra caralho. O que você acha da gente se separar?
- Depois pra se achar faz como?
- Celular ué!
- Tenho medo de ser assaltado.
- O quanto você quer voltar com ela?
- Muito!
- ntão acredita que você não vai ser assaltado.
Separados procuramos. Eu subo as escadas, na falsa crença que, do meio da banda, conseguirei achar Nathalia. Andar no sentido contrário do bloco é difícil, mas não impossível. Lá de cima vejo nada. O celular toca. É Beto.
- Já achou a Nathalia?
- Não, mas lembra da Lara e da Mariana? Aquelas irmãs, sabe?
- E eu lá quero saber delas, Beto?!?!
- Armando, quando uma oportunidade bate a sua porta…
- Beto, foca na Nathalia!
Assim que desligo o celular, vejo Nathalia no meio da multidão. O tal ex dela está ali, junto, fazendo ela rir. Nossa! Que ódio! Ciúme é amargo! Amargo tipo jiló. Arde como azia. Mas sabe o que arde tanto quanto?! Ter o celular furtado!
- Ladrão! Pega esse cara!
O rapaz, com seus vinte e poucos anos, esgueira-se pela multidão como cobra, passando por frestas de pessoas. Tô desempregado no país do (fora) Temer e comprar um smartphone não estava nos meus planos.
E agora?! Celular ou Nathalia?