Um conto etílico sobre cachaça, a vida e seus prazeres. No que a cachaça tem a ver com você? No que sua vida tem a ver com a cachaça?
É de bar em bar que a cultura da cachaça persiste. Até hoje, amigos se reúnem para festejar ou derramar as mágoas na mesa. A cachaça cria laços, afetivos ou não, para quem a consome.
Quantas vezes presenciei amigos dizerem suas histórias, angústias ou casos cômicos nos botequins. Os risos e as sensações à flor da pele fazem com que a cachaça seja apreciada tanto pelos jovens quanto pelos mais experientes na arte de beber.
Desabafos cachaceiros
Das histórias, as que mais me recordo são os famosos “desabafos”. Um conhecido dos botecos uma vez disse algo memorável:
“Não confio em quem não bebe cachaça.”
Salvei a afirmativa, e confirmo. Não se bebe cachaça apenas para esquecer ou para comemorar. A bendita proporciona a quem a consume a virtude da franqueza, esta perdida em tempos de globalização.
E não nos esqueçamos da tradição.
Culturalmente falando, a cana é um patrimônio. A “pinga”, dada a origem na época do engenho, é formadora da identidade brasileira. Para os cachaçólogos (estudiosos da cachaça), a aguardente de cana-de-açúcar marca a democratização do consumo de álcool pelas minorias.
Todas as lutas, derrotas, conquistas sociais, políticas, econômicas e culturais foram umedecidas pela cachaça.
Digo ainda mais: A aguardente nos revela memórias, desejos, significados, e sociabilidades a respeito da pessoa que a ingere, do contexto em que vive, comunicando também com as demais que participam do momento do ato de beber, identificando, assim, extratos sociais.
A cachaça e a música
A bebida forte e transparente carrega consigo a melodia das serenatas, expressa em poesia por Mário Solto Maior nos versos:
“Oh! Cachaça amiga, não há quem me diga que não tens valor. Por seres tão boa, vives assim à toa, sem saber se impor.”
A crítica é visível quanto à valorização da bebida em seu país de origem, uma vez que a cachaça ainda hoje é marginalizada pelas classes sociais de alto prestígio.
Voltemos à cachaça, assim como retornamos a casa dos pais, ao grande amor e às preocupações cotidianas.
Nada melhor do que beber cachaça, acompanhado ou sozinho. Meu conselho é que você consuma a branquinha, moderadamente ou com toda a sua vontade. O que vale aqui é beber, e se for pinga – melhor ainda.
Essa crônica foi redigida por Bruna Moreira de Sousa. Quer ver seu artigo ou crônica aqui no Papo de Bar? Entre em contato conosco 😉
Crédito da foto da capa: Alexey Korolyov