O conto de fadas Alice no País das Maravilhas visto de uma forma etílica e meio transtornada...
Era uma vez, uma menina de nome Alice, que curtia muito a vida, adorava sair, ir à balada, bares…. Durante um final de semana desses, seus amigos organizaram uma reuniãozinha na casa de um deles e ela se sentiu intimada a comparecer. Ela queria sair e encher a cara, mas com todos os amigos envolvidos na tal reunião, ela colocou um vestido qualquer e foi.
Chegando lá, foi o que sempre acontece nessas reuniões. Um social, bebidas e comidas, um (ou mais) bêbado, aquela nostalgia batendo conforme eram lembradas histórias do passado da galera e o povo começou a ir embora. Ao final restaram poucos e bons. Como já era tarde para Alice sair para uma noitada, ela resolveu ficar mais um pouco.
A turma se reuniu na varanda, pegaram um baralho, sentaram-se à mesa e começaram a decidir quem jogaria com quem. O jogo era Buraco que Alice detestava, apesar de saber jogar. Ela estava meio de ressaca da balada do dia anterior e não estava bebendo muito, só uma cervejinha ou outra. Sendo assim, meio entediada com a situação, a menina resolveu fumar um baseado e ver se o jogo ficava mais interessante.
Acendeu, puxou, tentou passar, mas ninguém queria e ela aproveitou e fumou tudo sozinha, enquanto o jogo de buraco rolava. Carta vai, carta vem e as jogadas pareciam se demorar cada vez mais. Para ela decidir se compraria da mesa ou do bolo de cartas fechadas, era uma eternidade e ao comprar, ficava o que pareciam horas para jogar outra carta fora. Pobre Alice!
A onda bateu!
Ao jogar a última carta de sua mão na mesa e vencer o jogo, Alice queria comemorar, mas em seu estado ‘meio lenta’, resolveu ir ao banheiro. Entrou, jogou um pouco de água no rosto e sentindo-se meio sonolenta, sentou-se para respirar. Olhando fixamente para o rodapé da porta, Alice viu surgir um coelho branco.
WTF?!
O coelho que tinha cara de gente boa, chamava a menina e gritava que já era tarde! Muito tarde! Ela, sem hesitar, o acompanhou e quando deu por si, estava caindo num buraco sem luz e sem fim. Rumo a escuridão, Alice fechou os olhos e deixou-se cair, enquanto curtia a sensação de liberdade que nunca antes havia sentido.
Ao alcançar o chão, algo que até há pouco ela não via, Alice estava de pé num gramado enorme, seguindo o tal coelho que passou por uma porta mínima e a deixou sozinha. Ela não ficaria por ali e daria um jeito de passar pela porta, que nesse momento só permitiria que uma perna da menina avançasse ao outro lado.
Ela olhou ao redor e avistou uma lata de ervilhas com ketchup que tinha em rótulo a orientação: Me coma! De imediato bateu aquela larica e Alice começou a devorar as ervilhas. Após algumas colheradas ela se deu conta que estava encolhendo e já conseguia passar pela porta para seguir o misterioso coelho. Ao atravessar, a menina estava num local que parecia uma floresta muito colorida, com diversas espécies de plantas e flores que cantavam. Cantavam!? Sim! Ela ficou admirada, escutando as músicas e quando o silêncio imperou no ambiente, Alice sentiu-se triste e se pôs a chorar. As flores perguntaram porque ela chorava e ouviram a explicação sobre o encolhimento de Alice.
- – Siga em frente, menina Alice! Em seu caminho a solução para seu problema estará. Disseram as flores.
Alice começou sua caminhada pela floresta e depois de algum tempo andando, ela reparou um bichinho verde, em cima de um cogumelo amarelo. Já que coelhos falavam e flores cantavam, porque um bichano não poderia responder uma pergunta?!
- – Olá, amiguinho! Como faço para crescer e retomar meu tamanho natural? Perguntou Alice.
- – Essa é fácil! Coma um pequeno pedaço desse cogumelo e tudo estará resolvido. Mas só do lado de lá! Advertiu o bicho.
- – Do outro lado, você diminuirá ainda mais.
Alice sentiu-se grata, pegou um pedaço do lado que a faria crescer e começou a mastigar e só para garantir uma eventual alteração de tamanho futura, ela levou mais 2 pedaços do cogumelo no bolso, um para crescer e outro para diminuir.
Seguindo sua caminhada sem rumo definido, Alice se deparou com um gato risonho que estava flutuando. Ela nem achou estranho e foi logo perguntando:
- – Que caminho devo seguir?
- – Mas para onde deseja ir? Questionou o gato.
- – Não sei! Respondeu a menina.
- – Seguindo reto, você encontra uma árvore que poderá orientá-la. À direita, você entrará na casa da Lebre de Março e à esquerda, você encontrará o meu amigo Chapeleiro. De qualquer maneira, ambos são malucos!
Diante de tantas coisas novas em sua mente, Alice não pensou muito e foi para o lado esquerdo, dando de cara com o tal Chapeleiro Maluco que tomava chá e jogava cartas com um animal que parecia a tal Lebre de Março e um soldado com roupas rasgadas. Ela chegou perto, deu um sorriso que foi retribuído pelo Chapeleiro, que fez sinal para que ela se juntasse a eles. Ela sentou-se e aceitou de bom gosto, o chá servido que, aliás, cheirava muito bem!
Ela sentou-se de frente para o Chapeleiro e enquanto degustava o chá de sabor indefinido, mas gostoso, ela começou a conversar com eles. O soldado embaralhou as cartas e as distribuiu e avisou que Alice começava. A menina contou as cartas, viu que tinham onze em sua mão e logo identificou o jogo e quem era seu parceiro. Ela e o Chapeleiro maluco deveriam vencer a dupla adversária e Alice tentaria voltar ao seu mundo.
Cartas vão, cartas vêm…
E o jogo seguia praticamente empatado ao fim de algumas partidas. Ao darem início a partida que definiria a dupla campeã, Alice viu que seu jogo estava muito bom, mas a outra dupla começou com tudo e já na primeira mão, colocaram uma canastra de Copas que valia 200 pontos e já tinha nove cartas. Duas rodadas mais tarde, eles aumentaram a sequência e tinham um jogo que se iniciava no Ás e ia até o Valete.
Alice e o Chapeleiro também tinham seus truques e conseguiram duas canastras de 200 pontos cada, uma de espadas e outra de paus. Segue o jogo! Alice está a ponto de bater, quando compra duas cartas em sequência e elas são duas Rainhas de Copas! Exatamente a carta que falta para a outra dupla dar sequência em seu grande jogo e completar mil pontos, já que ela sabia que o Rei e o outro Às de Copas, estavam nas mãos de seus oponentes.
Parando de beber seu chá e pedindo uma água, para espanto geral na mesa, Alice começa a comprar todas as cartas da mesa para não precisar se desfazer de seu jogo e dar de bandeja a grande vilã de seu jogo, Rainha de Copas. A menina juntava cartas, pensava e arquitetava uma jogada que acabasse com o jogo e desse a vitória a sua dupla. Em algumas rodadas, ela já tinha toda a continuação de uma canastra que lhe garantiria mil pontos, com exceção da Rainha de Espadas.
Seu parceiro, o Chapeleiro, ficava fazendo maluquices e parecia não estar nem aí para o jogo. Ela, então, tomou a decisão e colocou suas cartas na mesa, completando a sequência até o Valete e continuando na expectativa de comprar a desejada Rainha de Espadas. Só com sua ação, ela ficou apenas com o Rei e o Ás de Espadas, além de suas duas Rainhas de Copas em sua mão.
Um clima tenso se instalou na mesa, já que o soldado e a Lebre de Março não esperavam esse jogo e por mais que tentassem, seguiam sem conseguir a Rainha de Copas. Em sua vez de jogar, o Chapeleiro continuou com sua cara de maluco, olhou para todos os jogadores à mesa e fazendo um certo charme para abaixar suas cartas, ele abriu dois novos jogos, sendo um deles 9, 10 e Valete de Copas e ainda encaixou a linda Dama de Espadas no outro.
Pronto!
Alice se encheu de expectativa, pois estava praticamente batida, faria os mil pontos que a levariam a vitória! O soldado jogou, fez mais uma canastra de 200 pontos e lançou aquele olhar malicioso para Alice. Ela retribuiu o olhar, comprou um Rei de Copas, encaixou no jogo recém-aberto pelo Chapeleiro, completou os mil pontos da canastra de Espadas e bateu, jogando fora a agora não mais vilã, Rainha de Copas.
Alice pulou de alegria, abraçou seu parceiro e muito emocionada, perguntou onde ficava o banheiro. Chapeleiro a olhou com uma ponta de decepção e indicou o caminho. Ela, sem entender o porquê daquele olhar, seguiu. Chegou, jogou uma água no rosto e sentou-se para enfim, pensar em tudo que estava acontecendo e quando dá por si, ela está de volta ao banheiro da casa de seus amigos que estão numa gritaria só lá fora.
Ao sair, ela todos a elogiam pela grande partida de buraco que ela acara de jogar. Ela demora a entender, curte os louros da vitória, identifica seu parceiro e oponentes de buraco e fica com aquela dúvida na cabeça:
- – Foi real?
Tendo quase certeza de que foi uma viagem daquelas, regada a drogas lícitas e ilícitas, a menina matou seu copo d’água, se despediu de todos e partiu para casa. Em seu quarto, se preparando para dormir, Alice tirou seu vestido e como de costume, deu uma olhada em seus bolsos. Para sua surpresa, ela encontrou os dois pedaços de cogumelo que havia guardado durante a viagem. A dúvida entre comer ou não comer, pairou sobre sua cabeça, mas ela decidiu guardar os cogumelos e aproveitar uma bela noite de sono. Mas claro que um pensamento não saiu de sua cabeça:
- – Quando voltarei lá?!